[Crônicas de domingo] Arrume suas malas
“Se me perguntarem como estou, eis a resposta:
Estou indo. Sem muita bagagem.
Pesos desnecessários causam sempre dores desnecessárias.
Esvaziei a mala, olhei no fundo dela, limpei, e estou indo…
preenchê-la com coisas novas.
Sensações novas, situações novas, pessoas novas. Tudo novo.”
(Caio Fernando Abreu)
Ao longo dos anos vamos colecionando itens à nossa “mala”. Pedras, perdas, lembranças, sorrisos... E a certo momento fica impossível seguir com ela.
“Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala [...]
Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas [...]
Sei só que tenho que arrumar a mala,
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de existir independentemente dela.”
(Fernando Pessoa)
E que mala é essa? Porque Fernando Pessoa insistia que existia uma mala a ser arrumada? Por que apontava ser essa mala o seu existir?
Fernando Pessoa denomina a vida como a nossa mala a ser arrumada. Ele fala com tanta constância e veemência PORQUE ESSA MALA SOMOS NÓS! Que precisamos continuamente nos “ajustarmos”; organizar tudo, colocar tudo em seu devido lugar.
Tirar o que não nos serve mais, nos livrar do que é pesado demais para carregarmos... Algumas vezes, devemos arrumá-la, fechá-la e existir independente dela, (Como também orienta Pessoa) pois somos muito além daquilo que levamos durante nossa caminhada aqui na terra.
Sim! Eis uma oportunidade de comprar uma mala nova e recomeçar. Guardar novas lembranças, colecionar novos amigos, novas aventuras...
Arrastamos essas malas por toda uma vida sem nem se quer sabermos o porque. O pai carregou... A mãe carregou... Os irmãos carregaram... Mas nunca é tarde para arrumá-las e fechá-las de vez.
Nada precisa ser eterno nenhum peso tem que ser demasiadamente suportável. Então, deixemos para atrás alguns fardos e prossigamos.
Lembre-se: “A opção de escolher o que a gente carrega na vida é sempre nossa”.
Mariane Helena
0 comentários