[Literatura, sua linda!] Poetisa Manuela Margarido
Da luta à diplomacia: Te apresento Manuela Margarido
Sempre tive consciência de que os valores portugueses
nos tinham formado as raízes do pensamento,
até no modo como reagimos à colonização. (...)
Fez-se a descolonização e o meu país sentiu-se livre.
Mas independência não foi nem é tudo.
Há muito para fazer em toda a África,
é necessário e urgente cuidar da língua portuguesa,
para que se mantenha.
(Maria Manuela Margarido)
Maria Manuela da Conceição Carvalho Margarido (escritora, diplomata e lutadora contra a ditadura fascista e o colonialismo) nasceu na Roça Olímpia, na ilha do Príncipe, a 11 de Setembro de 1925. O pai, David Guedes de Carvalho, era de uma família judia do Porto, de nome Pinto de Carvalho. A mãe era mestiça, filha de angolana e indiano. O avô materno era descendente de uma família Moniz, de Goa -
«Trago bem marcada a fusão das minhas origens. Sinto-me como a última geração do que se convencionou ser o império português. Há no meu sangue uma mistura de continentes, nos meus afectos uma mistura de gentes, na minha formação a cultura portuguesa, na minha poesia o resumo do pulsar da minha ilha.»
Começou a viajar para Portugal muito nova. A primeira vez, apenas com três anos. A mãe morreu cedo. Um dos irmãos foi juiz na Madeira, Moçambique e Angola e da família restam alguns familiares nas Ilhas do Príncipe e em S. Tomé.
Apesar de ter passado grande parte da infância em S. Tomé e Príncipe, não falava fluentemente o crioulo. Filha de professora e de juiz, havia na sua casa a pretensão de que os filhos fossem um exemplo no modo de se expressar em português.
Manuela Margarido cedo abraçou a causa do combate anti-colonialista, que a partir da década de 1950 se afirmou em África, e da independência do arquipélago. Em 1953, levanta a voz contra o massacre de Batepá, perpetrado pela repressão colonial portuguesa.
Denunciou com a sua poesia a repressão colonialista e a miséria em que viviam os são-tomenses nas roças do café e do cacau.
Estudou ciências religiosas, sociologia, etnologia e cinema na Sorbonne de Paris, onde esteve exilada. Foi embaixadora do seu país em Bruxelas e junto de várias organizações internacionais.
Em Lisboa, onde viveu, Manuela Margarido empenhou-se na divulgação da cultura do seu país, sendo considerada, a par de Alda Espírito Santo, Caetano da Costa Alegre e Francisco José Tenreiro, um dos principais nomes da poesia de São Tomé e Príncipe.
Da sua vivência como embaixadora, destacou sempre com particular emoção os anos em que ocupou o lugar em Paris, por ter sido a cidade onde, no passado, adquirira a sua maior bagagem cultural e onde tinha deixado importantes relações de amizade.
Quando Mário Soares foi Presidente da República Portuguesa, ela ocupou o lugar de consultora para os assuntos africanos. Desempenhou ainda outras funções, entre as quais, como membro do Conselho Consultivo da revista Atalaia, do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL).
Uma vez terminada a sua militância de ativa cidadania, pensou voltar à ilha do Príncipe onde continuava a ser proprietária da Roça Olímpia (uma grande extensão de coqueiros, cacaueiros e cafézeiros), mas não tinha nem meios econômicos, nem saúde para a explorar.
Morreu aos 82 anos, a 10 de Março de 2007, em Lisboa, onde vivia.
Mariane Helena
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